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A formação dos estoques de etanol


NovaCana - Publicado: 18 Ago 2013 - 14:00 | Atualizado: 27 Ago 2014 - 17:36

A produção sazonal obriga a formação de estoques para permitir o comércio regular do etanol no período da entressafra, quando as fábricas estão paralisadas ou produzindo um volume insuficiente para atender à demanda. A formação desses estoques deve ocorrer ao longo do período de concentração da safra porque nesses meses o montante da produção excede o volume das vendas.

Conforme mostrado adiante, o período de concentração da colheita nos estados da região Centro-Sul (que congrega São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Paraná, Goiás, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso) se estende de maio até novembro de cada ano, e representa cerca de 90% da colheita nacional da cana-de-açúcar. Estes meses oferecem condições de clima mais seco e adequado para a realização do transporte e a concentração da sacarose na planta.

Atualmente (2010) existe uma tendência de alongamento desse período permitindo o aumento da quantidade da cana processada sem a necessidade de aumento da capacidade instalada de produção.

Nos estados da região Nordeste (que produzem os demais 10%) cujas instalações fabris estão próximas ao litoral (Alagoas, Pernambuco, Sergipe, Paraíba e Rio Grande do Norte), o período adequado de moagem se estende de setembro a março. Em alguns estados nordestinos (Bahia, Ceará, Piauí e Maranhão), que produzem cana em regiões não-litorâneas, esses meses estão associados à chegada do fim do período chuvoso e variam de acordo com as condições locais. A região Norte, que dispõe de poucas unidades de produção e representa uma fração inexpressiva do total nacional, também tem um calendário específico para cada estado. Para facilitar o tratamento dos dados, consideramos o calendário dos principais estados como representando toda a região.

Neste capítulo, baseados nas estatísticas mensais publicadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), estimou-se, com ênfase nos principais estados produtores, a proporção mensal da produção de etanol que não é comercializada e é mantida em reserva. Os dados sobre a acumulação mensal dos estoques permitem aferir a dimensão máxima desses estoques nos meses em que o período de moagem está na fase de encerramento (novembro na região Centro-Sul e fevereiro na região Nordeste) e a dimensão mínima que ocorre no mês que antecede o início da nova safra (abril e agosto, respectivamente). O estoque máximo no fim da colheita é uma variável importante para a análise da capacidade de suprimento na entressafra e o estoque mínimo nas vésperas da nova colheita (chamado de estoque de passagem) que indica se a produção e o comércio estão equilibrados.

A mensuração dos estoques físicos mensais também nos permitiu calcular o montante dos recursos de capital financeiro que deve ser aplicado nas suas formações, estimar o custo médio de carregamento ao longo do período de sua formação e no período em que são paulatinamente consumidos e estimar o acréscimo mensal de custo que sua manutenção acarreta.

Mensuração dos estoques físicos

Antes de analisarmos os dados do volume dos estoques, apresentamos os gráficos com o volume mensal da produção para as regiões Centro-Sul e Nordeste, de acordo com os dados apresentados pelo Mapa. Os quantitativos mensais da produção e dos estoques existentes, por ano safra e por região, estão apresentados abaixo. A mesma fonte de informações apresenta também os volumes mensais de estoques para as mesmas regiões, que aparecem nos gráficos adiante:

serie-com-volume-producao-mensal-alcool-etilico

serie-com-volume-producao-mensal-alcool-etilico 2

A partir dessas informações podemos calcular a parcela mensal da produção que é destinada à formação dos estoques para os principais estados produtores e para as duas regiões localizadas.
No quadro adiante estão apresentados os percentuais médios das últimas cinco safras.

parcela-mensal-da-producao-destinada

Por último, no Quadro II-2, apresentamos os volumes mensais dos estoques de etanol nos principais estados produtores e no Brasil.

quadro-ii2

O valor dos desembolsos realizados para a formação dos estoques

Para cada litro de etanol a ser armazenado é preciso desembolsar um determinado volume de gastos que são incorridos no processo de produção. Este valor representa uma parcela do custo total de produção porque exclui os itens de custo que apenas são realizados ao final do período contábil, como as depreciações e remuneração do capital aplicado na produção. (É muito frequente o erro de se considerar os gastos incorridos no processo produtivo como se fossem os custos totais de produção. Dessa forma, os valores indicados como desembolso financeiro nesta seção representam apenas uma parcela dos custos totais). Estes desembolsos coincidem com o volume de capital de giro necessário para manter em estoque o etanol produzido. Para realizar o cálculo desse valor para a cana-de-açúcar das próprias destilarias utilizamos os seguintes itens de despesas:

quadro-ii3

Objetivando melhorar a representatividade desse indicador, que se destina a balizar o cálculo estimativo do total do capital financeiro necessário para a formação dos estoques a cada safra, vamos levar em conta também os desembolsos efetuados na aquisição da cana adquirida de fornecedores, conforme o quadro a seguir:

quadro-ii3-2

Para dar mais precisão a nossos cálculos, fizemos a ponderação das duas origens da matéria-prima considerando que o total da cana própria representa 70% do total da moagem e a cana adquirida de fornecedores representa os demais 30%. Estas informações estão apresentadas no quadro adiante:

quadro-ii3-3

De acordo com a natureza deste estudo, estamos procurando indicadores que reflitam o padrão geral de comportamento e que nos permitam simular os valores estimativos do que ocorre na realidade, sem a preocupação de analisar questões regionais e locais. Por esse motivo vamos usar o valor indicado de R$ 0,617 por litro de etanol estocado no período da safra como um indicador geral para todos os estados e todos os anos considerados. Isto significa aceitar que os montantes de capital financeiro desembolsados nas safras anteriores à presente safra estão automaticamente atualizados e representam valores correspondentes ao mês de abril de 2009.

Dessa forma, se multiplicarmos o valor unitário indicado de R$ 0,617, pelos volumes estocados a cada mês, por ano safra, conseguimos definir o volume total de capital financeiro aplicado na formação dos estoques para o período de entressafra. No quadro adiante estão dispostos os resultados apurados para os valores concernentes às últimas cinco safras nas regiões Norte-Nordeste e região Centro-Sul e os índices anuais de aumento nesse total.

quadro-ii4

Os números apresentados nos informam que esses volumes ascenderam a valores bastante expressivos e passaram de R$ 2,77 bilhões na safra 2004-05 para R$ 5,29 bilhões na safra passada.
Esse grande aumento ao longo das últimas cinco safras, que se deve, principalmente, ao aumento da produção e do consumo do etanol, exigiu o aporte de um enorme volume adicional de capital de giro, representando um aumento de 91,1% em relação ao ano inicial.

Nesse ponto, é necessário chamar a atenção para o grande esforço de acumulação de capital financeiro nos últimos três anos, objetivando juntar os estoques necessários para atender adequadamente o consumo do período de entressafra. Como nenhum outro agente econômico, público ou privado, tem interesse em executar essa tarefa, todo o volume do capital novo para realizar esta operação, estimado em R$ 2,52 bilhões, teve que ser provido pelo próprio setor de produção alcooleira.

E, como o aumento da produção está ocorrendo principalmente em alguns estados da região Centro-Sul, os grupos econômicos desses estados não apenas tiveram que providenciar os capitais fixos necessários para aumentar sua capacidade de produção, mas também de encontrar meios de suportar toda a pressão financeira para a formação de estoques maiores além dos recursos normais para o giro de seus negócios. A desigualdade de esforços entre os estados produtores pode ser percebida na participação de cada um deles na safra 2008-09, conforme consta no quadro adiante:

quadro-ii-5
Como se observa, o estado de São Paulo é responsável pela maior parte dos estoques acumulados para o período da entressafra, com 64,5% do total, o que representa um volume superior à sua participação no total da produção, que na safra 2008-09 situou-se em 59,2%. Para os demais estados, a participação no esforço financeiro para aportar os recursos necessários guarda maior relação com a sua participação no total da produção.

O crescimento contínuo dos montantes de recursos desembolsados para a formação nos anos recentes coloca também a questão de como equacionar essa demanda no futuro se, como se espera, a produção e o consumo continuarem sua trajetória de expansão. O volume dos recursos necessários irá depender da dimensão da safra e dos volumes de estoque correspondentes.

Com os dados do Quadro II - 5 é possível observar quais foram os valores médios, em reais, demandados por metro cúbico (a preços de abril de 2009) nos vários anos analisados, facilitando bastante qualquer exercício de previsão que vier a ser feito para as futuras safras:

quadro-ii-6

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